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Histórias de São Paulo

Picadinho, um prato republicano

Por Pablo Pereira
Atualização:

O burgo dos estudantes, como ficou conhecida a São Paulo oitocentista, cultivou hábitos que até hoje podem ser encontrados no jeito paulistano de viver. Desse período ficaram na memória alguns dos principais personagens da República. Os livros de história estão cheios dos chamados "vultos históricos", paulistas ou "estrangeiros". Os museus e bibliotecas os guardam; as praças os ostentam.

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Mas há lembranças que são mais do que ícones emoldurados, esculpidos ou descritos nos livros. Atualmente é possível recordar esse passado de maneira saborosa: com o delicioso picadinho, prato que fazia sucesso nas repúblicas de estudantes da vila imperial.

Hoje o picadinho é feito até com tomates descascados, molhos especiais e toques de chefs da alta gastronomia. É uma delícia. Mas o picadinho dos estudantes era diferente. Era prato de cozinheiras de fogão, da mistura fervente na escassez dos ingredientes.

São Paulo foi, durante três séculos, uma espécie de entreposto. Recebia populações oriundas do sul na direção de Minas e Rio ou que chegavam por mar no rumo do interior do país. Nos oitocentos, a cidade viveu mudanças fortes no modo de vida. Viu-se cercada por chácaras produtivas e fazendas.

Por esse caminho passou boa parte do crescimento paulistano. E, com ele, vieram os ventos da modernidade acadêmica, soprados principalmente pela criação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1827. Era a escola que "rivalizava" com o curso de Recife. Boa parte da mocidade com acesso à formação no país na época frequentou a São Francisco, e se alimentou do picadinho.

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Cronista desse tempo, Almeida Nogueira, citado por Ernani Silva Bruno, estudou o picadinho, e sentenciou: "(sic)...os estudantes mineiros comiam-no com farinha, e os rio-grandenses também; os fluminenses, com pão; e os paulistas e paulistanos, com arroz. Alguns bebiam-no com colher."

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