O ministro entrou no supermercado dos Jardins acompanhado por seu escudeiro, que de terno e gravata caminhava sempre um passo atrás do chefe. Percorreram os corredores lotados de gente sofisticada às compras no sábado pela manhã.
Eram figuras ímpares naquele ambiente informal. Com a longa barba grisalha, terno cinza-chumbo e uma bengala, seguido pelo homem de preto, o ministro chamava a atenção.
Caminharam pelo corredor das massas até a seção das verduras, diante da padaria. Senhoras distintas e homens de fino trato andavam vagarosos com seus carrinhos por entre as gôndolas de croissants, bolos, rocamboles e geleias de damascos e mirtilos.
Foi quando o escudeiro alertou o homem de bengala sobre a presença de uma senhora, morena, famosa, que estava diante da prateleira dos pães franceses.
-Onde?, perguntou o ministro.
-Atrás do senhor, disse o homem de preto, olhando a morena de soslaio. É ela!
O ministro, então, aproximou-se. A moça mexia num balaio de belas baguetes. Ao lado da elegante mulher, o ministro grandalhão esbarrou no cesto e um pão caiu-lhes aos pés. Gentil, notando o imprevisto e a ilustre bengala, ela abaixou-se prontamente para apanhar o pacote.
-Olá! Tudo bem? disse o ministro, que também se curvara.
-Olá, respondeu ela, com um sorriso (e o pão na mão).
-Ontem mesmo pensei na senhora, emendou o ministro...
.