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Histórias de São Paulo

Fantasma que insiste em atormentar

Por Pablo Pereira
Atualização:

O noticiário brasileiro dos últimos meses é lamentavelmente rico em registros de agressão a mulheres - casos que vão do palavreado ofensivo à máxima brutalidade. A abominável atitude, usada como solução de conflitos de casais, em muitos casos atinge filhos e, pior, não raro acaba em morte.

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Uma rápida passada de olhos na história paulistana nos mostra que essa violência, infelizmente, é herança secular na cidade. A leitura dos estudos da historiadora Alzira Lobo de Arruda Campos, aos quais é sempre conveniente voltar quando se pensa no tema, leva o cidadão deste suposto moderno 2010 à dura conclusão: a bestialidade humana não tem limites.

"Além das mãos, usadas para dar bofetadas, murros, unhadas e empuxões, e dos pés para pontapés, coices e 'esporadas', os maridos valiam-se de numerosos instrumentos para o castigo de suas mulheres", escreve a historiadora no livro Casamento e Família em São Paulo Colonial (Paz e Terra, 2003). Ela estudou maços e maços de processos centenários de pedidos de divórcio, autos de crimes de honra e virgindade e outros documentos do Arquivo Público do Estado e da Cúria Metropolitana de São Paulo - entre outras fontes.

Os relatos de Alzira Lobo são chocantes. Impressionam pelos detalhes da crueldade contra as mulheres. E deixam a impressão de uma certa conivência familiar com o absurdo. Aliás, como hoje. "Quase todas as mulheres queixavam-se de ameaças e tentativas de morte", conta a autora, referindo-se aos depoimentos estudados. No "Processo de divórcio de José da Fonseca Carvão e Câmara e Maria Antônia de Brito" (SP, 1807, Cúria), a agressão relatada é brutal: "(...) pisando-a a coices com as botas e arrastando-a pelos cabelos". No caso da desavença entre Francisco Antonio Chrispim e Gertrudes Custodia (SP, 1820), os autos contam: "(...) outras vezes lhe tem dado com um chicote e queimando-a com fogo". É um passado bem presente.

(texto publicado em O Estado de S.Paulo)

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